segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Dica de filme: A Prova de Morte

“À Prova de Morte” (Death Proof, 2007) é a segunda parte de Grindhouse, projeto criado, escrito e dirigido por Quentin Tarantino e Robert Rodriguez. A empreitada era uma homenagem dos dois aos filmes de terror dos anos 70 que eram exibidos nos drive-in. Produções de custo barato que abusavam da estética exploitation: exploração do sexo, violência, drogas, monstros, nudez, kung fu, etc. Esses filmes se calcavam muito mais na publicidade desses temas do que nas qualidades da obra.

Provavelmente a cena que eu mais voltei para assistir novamente:




A maneira encontrada para reverenciar o gênero foi abusar do tom humorístico. Um claro exemplo é a criação de trailers falsos dirigidos por colegas cineastas como Eli Roth (O Albergue), Rob Zombie (A Casa dos 1000 Corpos) e Edgar Wright (Todo Mundo Quase Morto) e que foram exibidos entre um e outro. Para completar, os filmes receberam um “envelhecimento artificial”, como se rolos estivessem com defeitos e partes faltando. Afinal, era dessa forma que as tais sessões duplas aconteciam na época, justamente pela falta de preocupação dos exibidores.

Infelizmente, o filme não foi bem recebido nas bilheterias estadunidenses. Especialistas alegaram que a geração de hoje em dia pouco conhecia a estética grindhouse. O jeito foi desmembrar o projeto em dois filmes: Planeta Terror, de Rodriguez e este À Prova de Morte, de Tarantino.

Para a felicidade dos fãs do diretor de Cães de Aluguel, essa divisão, deixou o cineasta mais à vontade para tornar o filme um legitimo produto de sua autoria. Em relação ao que foi visto em Grindhouse são 20 minutos a mais de cenas. Assim, mais uma vez o tema serviria como um trampolim para que Tarantino pudesse destilar suas filosofias e brincar com a sua obsessão com a cultura pop. Foi assim em Pulp Fiction (novela policial), Jackie Brown ( black exploitation ) e KillBill (kung fu).

À Prova de Morte tem todos os elementos que consagraram o cineasta e o tornaram um dos mais imitados ao redor do planeta. Estão lá diálogos ácidos, violência graficamente estilizada, exploração do erotismo feminino com personagens marcantes e palavreado chulo, entre outros maneirismos do cineasta. Tudo isso com uma trilha sonora recheada de clássicos de todos os gêneros pontuando as cenas. As tomadas são construídas com diferentes ângulos. E tome close-ups de pés descalços, rostos e personagens dando longas tragadas em seus cigarros. Percebe-se também elementos cênicos que conectam com seus filmes anteriores, seja com personagens, locais, músicas ou marcas de produtos que não existem.

Ao mesmo tempo, À Prova de Morte não abandonou a estética grindhouse. Tarantino, mais uma vez, homenageia um gênero sem deixar de ser original, provando que seus longas não são uma simples cópia de produções do passado, mas sim um flerte com a cultura pop que dialoga com o passado, presente e futuro. Com esse recurso, ele rompe barreiras de tempo e espaço e transporta os espectadores para um outro universo. Aqui, ele flerta com o desejo latente entre carros potentes e vigorosos em equilíbrio com a anatomia feminina. Mais anos 70 impossível.

A trama envolve um dublê misógino que utiliza seu automóvel para matar suas vítimas. O personagem chama-se Stuntman Mike e é interpretado na medida pelo veterano Kurt Russell. Até mesmo o jargão de que um carro potente substitui um pênis pequeno ou inoperante não escapa. O elenco se completa com um desfile de beldades que têm seus dotes explorados ao máximo pela câmera excitante de Tarantino. Com destaque para Rosario Dawson (Abernathy) e Vanessa Ferlito (Arlene), que realiza uma dança de colo enlouquecedora. Mas vale lembrar que apesar de toda a exploração erótica, o cineasta arranca ótimas interpretações de todas elas. Os personagens femininos não são meros artifícios cênicos que estão lá para proporcionar prazer para os homens. Fica evidente na primeira parte da história que Stuntman Mike dita as regras, mas conforme ele vai escolhendo seu caminho as coisas podem mudar. Nunca se sabe o que o destino nos reserva nas curvas adiante.

As cenas finais envolvendo dois potentes muscle cars são eletrizantes. Na tradução, os carros musculosos são típicos automóveis que surgiram nos anos 60 que tinham uma aparência robusta e equipados com potentes motores V8. Um sinônimo de velocidade, individualidade e atitude. Eles aqui se encontram exemplificados no combate entre o Chevy Nova negro contra um Dodge Challenger branco. Até as escolhas das cores dos carros demonstram as intenções do cineasta: é o bem lutando contra o mal. É Tarantino reescrevendo a história mais uma vez.

Trailer Legendado



Fonte: projeto cinema

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